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Remígio-PB, Paraíba, Brazil
Mestre em Letras pela UEPB e professor de Língua Portuguesa do ensino médio em escola de tempo INTEGRAL. Meu interesse com esse espaço é poder divulgar e compartilhar com todas e todos minhas atividades escolares e questões objetivas de português para estudos voltados para concursos públicos e o ENEM.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

ATIVIDADE SOBRE A CRÔNICA "OS FILHOS DOS DESCASADOS", de CARLOS EDUARDO NOVAES



Leia o texto a seguir:
OS FILHOS DOS DESCASADOS

As pessoas que vivem no reino encantado do casamento ajustado às vezes não fazem a menor ideia do que se passa do outro lado da cerca, no conturbado e imprevisível mundo dos descasados.
Veja, por exemplo, o caso de Alexandre P., advogado, morador da Barra da Tijuca. Alexandre se considera hoje um descasado convicto, após duas experiências conjugais. Com a primeira mulher teve uma filha, Patrícia, nove anos; com a segunda, outra filha, Paula, sete anos. Alexandre dá um duro dos diabos para ajudar a manter e educar as duas meninas. Quando chega os fins de semana em que fica com as filhas, passa as manhãs de sábado nos congestionamentos. Uma delas mora na Voluntários da Pátria; a outra, na Rua das Laranjeiras. Depois vai apanhar a namorada, com a filha, na Farme, de Amoedo. Frequentemente ainda tem que pegar as duas filhas de sua irmã, também descasada, na Tijuca. Alexandre vem pensando seriamente em comprar um ônibus escolar.
            Alexandre termina esses fins de semana mais grogue do que boxeur depois de um direto no queixo. Não faz muito tempo, um domingo á noite, na hora da entrega, Alexandre trocou as filhas: entregou a filha da segunda mulher na casa da primeira e a filha da primeira na casa da segunda. Contribuiu para o fato uma dessas coincidências que a gente pensa só existir em novelas: ambas as ex-mulheres moram num 401.
As duas meninas dormiam no banco de trás quando Alexandre parou o carro diante do prédio na Voluntários. Pegou uma das filhas no colo e chamou o porteiro: “Por favor, entregue ela no 401”. O porteiro segurou-a pela mão e foi caminhando com ela, que esfregava os olhinhos e dormia sobre as próprias pernas. Alexandre arrancou com o carro em direção à Rua das Laranjeiras. Ao estacionar viu sua ex-primeira mulher parada na portaria. Desligando o carro, Alexandre sorriu e brincou com ela:
- Tá esperando aí por quê? Não confia mais em mim? Abriu a porta, pegou a menina e foi levando no colo.
- Toma! Toma logo sua filha!
A mulher chegou a estender os braços, mas logo recuou:
           Alexandre levou um susto. Quase deixou a garota despencar dos seus braços. A ex-mulher sempre pronta a se agarrar aos menores pretextos para esculhambar com o ex-marido abriu sua metralhadora giratória:
- Você é mesmo um pai desnaturado! Não sei como pude me casar com você! Imagina! Não reconhece a própria filha! – e começou a berrar na calçada – Cadê a Patrícia? Eu quero a minha filha! Quero minha filha!
Alexandre mantinha a calma e procurava explicar o engano à ex-mulher, que já ensaiava um escândalo na portaria. Algumas pessoas se debruçavam nas janelas do prédio. Muitos passantes paravam para ver o desenrolar da cena.
- Não precisa gritar, Priscila – pedia ele. - Eu só troquei as meninas...
A mulher beirava o descontrole:
- Só??? Você troca as próprias filhas e diz “só”? – e dirigia-se ao porteiro: - O que um homem desses não é capaz de fazer, han? Um homem que troca as filhas! O senhor já viu alguém assim? – Dirigindo-se a Alexandre: - Você é pior que o Mengele! É um perigo para a sociedade!
A outra filha acordou e começou a chorar dizendo que queria ir para casa. Alexandre não sabia o que fazer. Estava vendo a hora que iria ser tascado na calçada. Tentava tranquilizar a mulher.
- Sua filha está bem. Ela está bem. Nós vamos busca-la. Deixei-a na casa de Maria Luísa.
Era o que faltava para ela explodir. As duas ex-mulheres se detestavam:
- O quê? Você está dizendo que deixou minha filha com aquela mulherzinha vulgar?
- Ex-mulher – foi a única coisa que Alexandre conseguiu dizer.
Seja o que for! Minha filha na casa daquela mulher que não vale nada... ordinária, uma piranha maconheira! A essa altura já deu um baseado para minha filha. Vou chamar a polícia!
- Fique calma, Priscila. Eu vou buscá-la!
A mulher berrou que iria junto. Alexandre nem se lembra como deu a partida no carro com aquela mulher matraqueando nos seus ouvidos: “Vou ter que desinfetar minha filha!”. Não chegou a avançar dois quarteirões. Deu a volta.
- O que houve agora? Não! – a mulher tentou segurar o volante. – Vamos logo. Quanto menos tempo a Patrícia passar com aquela mulher, melhor... tá voltando por que?
Alexandre estava completamente zonzo.
- Você fica aí falando sem parar... esqueci minha filha lá na portaria.
Maria Luísa, a segunda ex-mulher, ligava sem parar para a casa de Alexandre. Ela estranhou abrir a porta e ver aquela menina ser entregue pelo porteiro como se fosse uma encomenda. Logo, porém, tudo foi esclarecido. Sim, mas agora Maria Luísa queria sua filha de volta. Mais que isso: queria despachar a filha da outra, que chegou num momento bastante impróprio. Maria Luísa estava deitada com o atual namorado, Geraldo, enquanto a filha dele, oito anos, dormia no quarto ao lado. Não é das coisas mais agradáveis ter que suspender as atividades e ficar fazendo sala para uma intrusa de nove anos. “Onde estará Alexandre com minha filha? ” disse Maria Luísa mais uma vez o telefone.
- Liga pra casa da outra ex-mulher – sugeriu Geraldo
A filha de Geraldão acordou. As duas meninas ficaram brincando na sala. Na rua, Alexandre ainda estacionava o carro. Priscila foi saltando e se dirigindo ao porteiro: “Peça para mandarem descer a menina que está lá no 401. Diga que a mãe dela está aqui”. Alexandre quis pedir ao porteiro para levar a filha de Maria Luiza.
Os dois permaneceram aguardando no carro. A mulher falava sem parar: “Torça pra  que essa vagabunda devolva minha filha em bom estado ou subo lá e quebro tudo!”. Logo Priscila viu através do vidro da portaria, entre plantas, a menina saindo do elevador. Correu para abraçá-la. Só então percebeu que não era sua filha. Era a filha do Geraldo. A mãe tinha ficado de passar para apanhá-la. 

NOVAES, Carlos Eduardo. Os filhos dos descasados. In: A cadeira do dentista e outras crônicas. São Paulo: Ática, 1999. p.86-89.


 QUESTÃO 1:
Assinale a alternativa que melhor explica o conflito no texto lido.
a)      As ex-esposas de Alexandre não se falam.
b)      O advogado não consegue ser feliz em nenhum relacionamento.
c)       O pai, depois de final de semana exaustivo, confunde-se e entregar uma de suas filhas na casa de outra ex sua, iniciando o conflito da história.
d)      Alexandre esquece uma das filhas em sua casa.

QUESTÃO 2:

Que afirmação do autor no primeiro parágrafo revela um tom de sarcasmo/ironia?

QUESTÃO 3:

A voz que narra a história é a de um narrador que nos conta os fatos e participa deles como personagem ou se trata de um narrador que conhece tudo sobre os personagens e sobre o enredo, sabe o que passa até no íntimo das personagens, conhece suas emoções e pensamentos? Justifique sua resposta com uma passagem do texto.

QUESTÃO 4:

De acordo com o texto, quantas crianças ao todo são citadas na história?

QUESTÃO 5:

Aponte no texto pelo menos duas razões que contribuíram para Alexandre entregar as filhas nas casas erradas?

QUESTÃO 6:
Leia o trecho a seguir:

Priscila, sempre pronta para esculhambar com ele abriu sua metralhadora giratória:
- Você é mesmo um pai desnaturado! Não reconhece a própria filha!

A expressão destacada foi usada como forma recurso que atribui mais expressividade, ênfase ao que está sendo narrado. Sendo assim, qual o sentido dessa expressão no contexto da história?

QUESTÃO 7:

Indique a passagem do texto que mostra que as ex-esposas não se aturavam:

a)      - Negativo! – chiou Priscila. – Só vou entregar a filha dela depois que ela entregar a minha.
b)      Onde você arranjou essa menina?
c)        - Minha filha? Que negócio é esse? Não é a Patrícia.
d)      - Falar com aquela dondoca histérica? Nunca! Nem sei o telefone daquela neurótica!

QUESTÃO 8:

Observe o último parágrafo do texto novamente:

Logo Priscila viu através do vidro da portaria, entre plantas, a menina saindo do elevador. Correu para abraçá-la. Só então percebeu que não era sua filha. Era a filha do Geraldo. A mãe tinha ficado de passar para apanhá-la. 

De acordo com essa última passagem do texto, o que o leitor pode deduzir sobre o encerramento história?

QUESTÃO 9:

Com toda essa confusão, como será que as filhas se sentiram após serem entregues nas casas erradas?

QUESTÃO 10:

Que tipo de família está sendo abordada nesta crônica: a família tradicional ou uma concepção de família moderna? Comente sua resposta de acordo com o texto.


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